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A mancha no design e a (in)visibilidade da produção negra na Idade “Mídia”

  • Foto do escritor: Jean Carlos de Oliveira
    Jean Carlos de Oliveira
  • 4 de jul. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 31 de jul. de 2024

Por Jean Carlos de Oliveira

O campo do design, especialmente no Brasil, muitas vezes ignora ou invisibiliza a contribuição de designers negros. Isso não só é frustrante para aspirantes a designers negros, mas também perpetua desigualdades estruturais. Nesta pesquisa, eu, como autor, professor e designer negro, compartilho minha experiência lidando com essa questão em sala de aula. Observo que muitos estudantes negros se sentem desconfortáveis com a falta de representatividade nos currículos e exemplos discutidos em aula e que essa prática constitui uma mancha no design.


Assim, eu destaco a importância de repensar como o design é ensinado e praticado, especialmente considerando as disparidades históricas e estruturais presentes na sociedade. Faço uma discussão sobre como o racismo algorítmico, que afeta a visibilidade online de designers negros, é apenas uma das muitas barreiras enfrentadas por eles.

No decorrer da pesquisa, estabeleço um diálogo com autores das ciências sociais e psicologia como Maria Aparecida Bento (2002), Silvio Almeida (2018), Anibal Quijano (2005) sobre racismo estrutural e processos de colonialidade e aqueles que se dedicaram à história do design Brasileiro com Rafael Cardoso (2020), João de Souza Leite (2014) e Wagner Silva (2018).


Para abordar essas questões, proponho uma pesquisa que vai além de simplesmente identificar o problema. Exploro iniciativas e práticas emergentes que resistem à invisibilidade de designers negros, usando plataformas digitais e redes sociais. A pesquisa visa não apenas denunciar a falta de representação, mas também sugerir estratégias concretas para promover uma mudança positiva no campo do design.


No Brasil, o racismo é um problema enraizado na história do país, marcado pela colonização, escravidão e segregação. Mesmo após a abolição da escravatura em 1888, as políticas discriminatórias persistiram, marginalizando a população negra.


Apesar dos avanços, o racismo ainda permeia a sociedade brasileira contemporânea, refletindo-se no acesso desigual à educação, no mercado de trabalho e na violência policial contra a juventude negra. O design desempenha um papel crucial na construção da identidade cultural, mas a falta de representatividade e diversidade no campo pode perpetuar estereótipos prejudiciais. Profissionais negros muitas vezes são marginalizados, impactando negativamente a indústria do design e privando-a de perspectivas inovadoras.


A invisibilidade da produção negra no design é um problema sério, refletindo a falta de oportunidades para profissionais negros no campo. Suas contribuições muitas vezes são ignoradas, prejudicando tanto os profissionais quanto a indústria.  Além disso, o racismo algorítmico representa um desafio crescente, pois algoritmos e inteligência artificial podem reproduzir preconceitos existentes na sociedade, resultando em decisões discriminatórias em áreas como recrutamento e justiça criminal.



No entanto, apesar dos desafios, surgiram iniciativas de resistência e empoderamento lideradas por profissionais negros no campo do design. Essas iniciativas visam promover a diversidade e inclusão na indústria, reconhecendo a importância de representatividade para criar soluções inovadoras e inclusivas.


Combater o racismo no design requer um esforço conjunto de profissionais, engenheiros, cientistas de dados e formuladores de políticas. Somente através de uma abordagem multidisciplinar podemos garantir um futuro mais justo e igualitário para todos na indústria do design.


Referências e materiais consultados:

ALMEIDA. Sílvio Luiz de. O que é racismo estrutural? Belo Horizonte (MG): Letramento. 2018.

BENTO, Maria Aparecida Silva. Pactos narcísicos no racismo: branquitude e poder nas organizações empresariais e no poder público. 2002. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. 

CARDOSO, Rafael. Uma Introdução a História do Design. São Paulo: Edgard Blücher. 2000.

LEITE, João de Souza. “De costas para o Brasil: o ensino de um design internacionalista”. São Paulo: Cosac Naify, 2007. In. Textos Escolhidos. João de Souza Leite. 2014. Disponível em: <https://www.academia.edu/8736725/De_costas_para_o_Brasil_o_ensino_de_um_design_internacionalista_With_its_back_to_Brazil_teaching_an_internationalist_design>. Acesso em: 15 fev. 2024

SILVA, Wagner. Onde estão nossas referências negras em Design? Revista Medium. 2018. Disponível em: <https://medium.com/ddnbr/onde-estão-nossas-referências-negras-em-design-8f3381557c95> . Acesso em 26 de junho de 2022.

QUIJANO, Anibal. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. En. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. CLACSO, Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales. Buenos Aires, 2005. Disponível em: <http://bibliotecavirtual.clacso.org.ar/clacso/sur-sur/20100624103322/12_Quijano.pdf>. Acesso em 11 de junho de 2022.



Sobre o autor

Jean Carlos de Oliveira é mestre em Design pelo Programa de Mestrado da Universidade Anhembi Morumbi - UAM/SP (2024) e Bacharel em Tecnologia e Mídias Digitais, com ênfase em Arte e Tecnologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUCSP (2007), o profissional é especialista em Sócio-Psicologia pela Fundação Escola de Sociologia Política FESP (2011) e em Docência no Ensino Superior pelo Centro Universitário Senac (2020). É pesquisador em arte, design e tecnologia, conta com uma trajetória de mais de 16 anos nas áreas de design gráfico e digital, comunicação institucional e docência em cursos superiores, técnicos e livres. Atualmente, é pós-graduando em Docência Digital pela Foreducation, em parceria com a Google Brasil e a Ânima Educação, e atua como docente nos cursos de Design na Universidade São Judas, além de integrar o grupo de pesquisa Design, arte e memória: perspectivas contemporâneas, na Universidade Anhembi Morumbi.

 
 
 

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