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A importância do conhecimento científico para a sociedade

  • Foto do escritor: Luiz Guilherme de Brito Arduino
    Luiz Guilherme de Brito Arduino
  • 25 de jun. de 2024
  • 8 min de leitura

Atualizado: 31 de jul. de 2024

Por Luiz Guilherme de Brito Arduino

Coluna: Ciência e Divulgação Científica


Imagem: Gerada por IA - Midjourney/Freepik


A palavra “conhecimento” é originária do latim “knowledge” que, segundo o dicionário Michaelis, possui algumas definições como, o (1) ato ou efeito de conhecer; (2) ato de conhecer por meio da razão e/ou da experiência; (3) processo pelo qual se adquire um saber intelectual; (4) consciência que cada indivíduo tem da sua própria existência; (5) relação entre indivíduos que, embora não tenham laços de amizade, mantêm contatos sociais.


Considerando essas definições iniciais, em Fundamentos da Metodologia Científica, escrita pelas autoras Eva Maria Lakatos e Marina de Andrade Marconi (2003), há a existência de quatro tipos de conhecimento, os quais estão presentes e fazem parte da sociedade, sendo eles o conhecimento popular, o filosófico, o religioso e o científico, discutidos a seguir.


Para o pedagogo e pesquisador Ezequiel Ander-Egg (1978), o conhecimento popular, ou empírico, se caracteriza por ser predominantemente superficial, ou seja, se conforma com o que se aparenta ver e observar, expressado por termos como "porque o vi", "porque o senti", "porque o disseram", "porque todo mundo o diz" quando questionados. Além de apresentar superficialidade, esse tipo de conhecimento é sensitivo porque possui uma relação com as  vivências, estados de ânimo e emoções da vida. Também é subjetivo, considerando que o sujeito organiza suas próprias experiências e conhecimentos a partir de suas vivências e pelo que é compartilhado por outros sujeitos. Outra caraterística deste tipo de conhecimento é que não há uma sistematização de ideias no que configura a forma de adquiri-las e na tentativa de validação delas.


O conhecimento filosófico é caracterizado por ser valorativo e não verificável, pois parte de hipóteses que não podem ser submetidas à observação de um experimento. Esse tipo de conhecimento é revelado a partir da experiência e não da experimentação, conforme Alfonso Trujillo Ferrari (1974). Uma característica desse conhecimento é que ele é racional, em virtude de consistir num conjunto de enunciados logicamente correlacionados, entretanto, as hipóteses filosóficas não podem ser comprovadas e nem refutadas. Além disso,  ele parte da sistematização, pois as hipóteses e enunciados levantados objetivam ser uma representação coerente da realidade estudada. Eva Maria Lakatos e Marina de Andrade Marconi (2003) detalham que o conhecimento filosófico tem como característica o esforço da razão pura para questionar os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, recorrendo às luzes da própria razão humana.

 

O conhecimento religioso, por sua vez, está pautado em doutrinas que contém pressupostos sagrados, ou seja, é um conhecimento valorativo a partir de uma revelação sobrenatural (inspiracional). Segundo Eva Maria Lakatos e Marina de Andrade Marconi (2003), esse tipo de conhecimento apresenta uma sistematização do mundo como obra de um criador divino e suas evidências não são verificadas, pois está pautada sempre em uma atitude de fé perante um conhecimento revelado. Assim, o conhecimento religioso ou teológico parte do princípio de que as "verdades" tratadas são infalíveis e indiscutíveis, por consistirem em "revelações" da divindade (sobrenatural).


Por fim, há o conhecimento científico que, segundo as autoras mencionadas (2003), tem como característica ser real ou factual porque lida com formas de existências que se manifestam de algum modo, ou seja, de fatos. Suas hipóteses têm sua veracidade ou falsidade comprovada por meio da experimentação. Ele tem como característica ser sistemático, afinal, é um saber lógico pautado em um sistema de teorias e não em conhecimentos desconexos. O conhecimento científico ainda é caracterizado por ser verificável e falível, isto é, as afirmações passam por verificação e não são definitivas, pois novas hipóteses, a partir das verificadas, podem ser criadas e desenvolvidas, reformulando o acervo teórico existente.


Imagem: Gerada por IA - Midjourney/Freepik


Para que haja um reconhecimento como conhecimento científico, Pedro Demo (1995) destaca que este precisa ser lógico, sistemático, coerente e, sobretudo, bem argumentado. Deste modo, o autor aponta alguns critérios de cientificidade, como:


  • (a) objeto de estudo bem definido e de natureza empírica: delimitação e descrição objetiva e eficiente da realidade que se pretende estudar, analisar, interpretar ou verificar por meio de métodos empíricos;

  • (b) objetivação: tentativa de conhecer a realidade tal como é, evitando corrompê-la com ideologia, valores, opiniões ou preconceitos do pesquisador, possuindo um compromisso metodológico de dar conta da realidade da maneira mais próxima possível;

  • (c) discutibilidade: trata-se de permitir que o conhecimento possa ser criticado e discutido;

  • (d) observação controlada dos fenômenos: preocupação em controlar a qualidade do dado e o processo utilizado para sua obtenção;

  • (e) originalidade: trata-se da correspondência do discurso científico com alguma inovação, ainda que seja no sentido reconstrutivo e não se reproduz ou se copia um discurso científico, mas questiona-se, desconstrói e reconstrói em outro nível;

  • (f) coerência: argumentação lógica, bem estruturada, sem contradições;

  • (g) sistematicidade: o esforço de dar conta do tema amplamente, sem exigir que se esgote, porque nenhum tema é esgotável;

  • (h) consistência: capacidade do texto de resistir à contra argumentação ou, pelo menos, merecer o respeito de opiniões contrárias;

  • (i) linguagem precisa: sentido exato das palavras, restringindo ao máximo o uso de adjetivos;

  • (j) autoridade por mérito: o reconhecimento de quem conquistou posição respeitada em determinado espaço científico;

  • (k) relevância social: pertinência dos trabalhos científicos em termos sociais, ou seja,  que se debruçam sobre temas de interesse comum confrontando-os com os problemas sociais;

  • (l) ética: procura responder à pergunta: a quem serve a ciência? E quais são os limites do que pode e como deve ser feito e analisado;

  • (m) intersubjetividade: opinião dominante da comunidade científica de determinada época e lugar.

 

Além dos critérios de cientificidade, a professora e filósofa Marilena de Souza Chauí (2000) aponta algumas características sobre o senso comum, tais como:


  • (1) ser subjetivo: há uma demonstração de sentimentos e opiniões individuais e de grupos, variando de uma pessoa a outra, de um grupo a outro, dependendo das condições vivenciadas;

  • (2) ser qualitativo: são julgadas uma em contraponto a outra, como belas ou feias, grandes ou pequenas, doces ou azedas;

  • (3) ser heterogêneo: está relacionado aos fatos que são julgados porque são percebidos como diversos entre si;

  • (4) ser individualizador: por serem qualitativos e heterogêneos, os fatos trazem características particulares (por exemplo, a seda é macia, o mel é doce e o fogo é quente);

  • (5) ser generalizado: reúne numa única opinião ou ideia fatos julgados semelhantes;

  • (6) devido à generalização, estabelece relações de causa e consequência entre as coisas ou entre os fatos;

  • (7) há uma admiração e o espanto para o que é imaginado como único e extraordinário;

  • (8) falta de compreensão sobre a investigação científica. Muitos sujeitos a identificam, em muitas vezes, como algo mágico, considerando lidam com informações misteriosas e com o incompreensíveis pela sociedade em geral;

  • (9) costuma-se projetar nas coisas ou no mundo sentimentos de angústia e de medo diante do desconhecido;

  • (10) por fim, por possuir a característica de ser subjetivo, generalizador, expressar sentimentos de medo e de angústia e pela incompreensão quanto ao trabalho científico, que gera preconceitos com a interpretação de uma realidade e de todos os acontecimentos que cercam a sociedade.


Logo, compreende-se que o conhecimento científico precisa ser acessado por outras comunidades para além da comunidade acadêmica. As demais comunidades precisam compreender o que é a ciência para que possam cultivá-la, conforme o cientista Oscar Sala (1974) aconselha:


Somente quando a ciência se torna profundamente enraizada como um elemento cultural da sociedade é que pode ser mantida e desenvolvida uma tecnologia progressista e inovadora, tornando-se, então, possível uma associação íntima e vital entre ciência e tecnologia. Essa associação é uma característica da nossa época e certamente essencial para a manutenção de uma civilização com os níveis presentes de população e qualidade de vida (SALA, 1974, p.813).

 

Deste modo, conforme Marilena Chauí (2000), entendo que as comunidades sociais precisam compreender que a ciência baseia-se em pesquisas, investigações metódicas e sistemáticas e na exigência de que as teorias sejam internamente coerentes sobre a verdade e a realidade. A ciência é, portanto, um conhecimento que resulta de um trabalho racional.


Assim, a fim de agregar para a discussão, é necessário a compreensão sobre o conceito de Ciência. Alfonso Trujillo (1974) comenta que a Ciência nada mais é do que uma sistematização de conhecimentos, um conjunto de hipóteses logicamente correlacionadas sobre o comportamento de fenômenos que se pretende estudar. O autor define que a Ciência é “todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado, capaz de ser submetido à verificação.


Para os cientistas e pesquisadores Natália Pasternak e Carlos Orsi (2021), o poder da Ciência não diz respeito às suas conclusões, mas a sua estrutura por se tratar da única atividade humana construída e projetada com a finalidade de reconhecer, revisar e aprender com as próprias falhas.


Em complemento, Pedro Demo (1995) destaca que a Ciência reúne teoria e prática para a produção regrada de saberes. Ela trabalha com hipóteses que, verificadas por procedimentos previamente estabelecidos e aceitos, podem instruir a experiência prática. De modo geral, a ciência descobre algo, a tecnologia aplica, a indústria produz, a sociedade adota.


É necessário que o senso comum compreenda de fato o que é Ciência e que ela não se limita apenas a uma área do saber, além de que não há uma ciência que se sobressaia à outra.


A complexidade do universo e a diversidade de fenômenos que nele se manifestam, aliadas à necessidade do homem de estudá-los para poder entendê-los e explicá-los, levaram ao surgimento de diversos ramos de estudo e ciências específicas. Estas necessitam de uma classificação, quer de acordo com sua ordem de complexidade, quer de acordo com seu conteúdo: objeto ou temas, diferença de enunciados e metodologia empregada (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 81).


Em resumo, a Ciência é essencial para o progresso humano, o desenvolvimento econômico, a tomada de decisões informadas e a melhoria da qualidade de vida de toda a sociedade. Ao investir em pesquisa científica e promover a alfabetização científica, a sociedade, de modo geral, pode colher os muitos benefícios que a ciência oferece.


Nesse sentido, acredito ainda que um dos principais caminhos para que haja uma expansão do pensamento crítico da população e da melhor informação dos indivíduos seja por meio da divulgação científica em diferentes meios de comunicação, fazendo o uso de diversas linguagens.

 

Referências bibliográficas e materiais consultados

 

ANDER-EGG, Ezequiel. Introducción a las técnicas de investigación social: para trabajadores sociales. 7. ed. Buenos Aires: Humanitas, 1978.

CHAUÍ, Marilena de Souza. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2000. 

DEMO, Pedro. Metodologia científica em ciências sociais. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1995.

FERRARI, Alfonso Trujillo. Metodologia da ciência, 2. ed. Rio de Janeiro: Kennedy, 1974.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos da Metodologia Científica. São Paulo: Editora Atlas, 2003. 

PASTERNAK, Natalia; ORSI, Carlos. Ciência no cotidiano: viva a razão, abaixo a ignorância. São Paulo: Contexto, 2021.

SALA, Oscar. O papel da ciência na sociedade. Revista de História, v. 50 n. 100, p.813-820, dez. 1974. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/132677


Sobre o autor

Doutorando em Design pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM), mestre em Linguística Aplicada pela Universidade de Taubaté (UNITAU), especialista em Comunicação, Semiótica e Linguagens Visuais pelo Centro Universitário Braz Cubas e graduado em Publicidade e Propaganda pela Universidade de Taubaté (UNITAU). Atualmente é professor na Universidade de Taubaté (UNITAU). Tem passagem por agências, instituições de ensino, atuando na área da docência e gestão de design, comunicação e marketing. É um pesquisador multidisciplinar atuando nas seguintes áreas: Design e Linguagem Gráfica; Design e Sociedade; Gestão de Marcas; Criação de conteúdo para as Mídias Sociais; Narrativa Transmídia; Desinformação na era digital; Divulgação Científica; Ficção seriada; Análise Dialógica do Discurso (ADD) e Estudos Críticos do Discurso (ECD).

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